Congresso de Agroecologia em Belém discutiu desafios à soberania
Abertura do IX Congresso Brasileiro de Agroecologia.
Foto: CBA
“Diversidade e Soberania na Construção do Bem Viver” foi o tema central do IX Congresso Brasileiro de Agroecologia – IV Encontro Estadual de Agroecologia realizado em Belém/PA, de 28/09 a 1/10.
O evento reuniu na capital paraense 3.742 profissionais do ensino, da pesquisa e da extensão, estudantes, agricultores, representantes de povos indígenas e de povos e comunidades tradicionais de todo as regiões do Brasil.
O objetivo central do IX Congresso Brasileiro de Agroecologia foi promover o debate em torno de temas abordados no âmbito da perspectiva agroecológica em âmbitos regional, nacional e internacional.
O evento também abrangeu o VI Seminário Estadual de Agroecologia e o VII Encontro Nacional dos Grupos de Agroecologia (Enga), este, na Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra).
Sustentabilidade socioambiental, agroecologia e produção científica, enfoque amazônico em agroecologia, agroecologia e políticas públicas, segurança e soberania alimentar, bem viver, agroecologia e educação, agroecologia e gênero foram temas discutidos durante o IX CBA.
Marca-símbolo do IX Congresso CBA.
Luta e esperança
A presidente da Associação Brasileira de Agroecologia, Irene Cardoso, destacou os desafios para a construção de um futuro mais promissor para o país, a partir da proposta agroecológica.
“Temos aqui mais de 1400 trabalhos que expressam a contribuição de estudantes, agricultores, quilombolas, ribeirinhos, indígenas e povos tradicionais na construção do conhecimento agroecológico”, disse.
O representante da Via Campesina, Rogério Hohn, afirmou que a agroecologia não é apenas um debate técnico, mas a luta por um projeto diferenciado de sociedade.
“Apostamos na agroecologia enquanto experiência concreta de vida, experiência concreta de resistência”, disse
O evento também contou com a participação do secretário de estado de desenvolvimento agropecuário e da pesca Hildegardo Nunes, e representantes da Embrapa, Emater, IFPA, UFPA, Ufra, Museu Goeldi, dentre outras entidades.
Somos uma espécie muito depredadora. Vivemos uma crise civilizatória que se assemelha a um clima de fim de festa, pois consumimos de forma desmedida os recursos naturais, afirmou o professor Narciso Barrera-Bassols
O paradigma biocultural: diversidade e soberania na construção do bem viver
Este foi o tema da conferência da conferência do professor mexicano Narciso Barrera-Bassols, da Universidade Nacional Autônoma do México.
Segundo ele, o paradigma biocultural considera que a diversidade biológica e a diversidade cultural são mutuamente interdependentes e geograficamente coexistentes.
“Não há cultura sem natureza nem natureza sem cultura”, disse.
Foto: CBA
A humanidade e sua história moderna (últimos 300 anos) vistos em perspctiva representam uma ínfima parte de um planeta que existe há 4 bilhões de anos e é habitado por milhões de espécies de seres vivos.
O professor Narciso Barrera-Bassols (foto), no entanto, considera que esses últimos três séculos causaram uma perturbação no meio ambiente sem precedente.
“Somos uma espécie muito depredadora. Vivemos uma crise civilizatória que se assemelha a um clima de fim de festa, pois consumimos de forma desmedida os recursos naturais”, comparou.
A esperança de superação dessa crise é depositada pelo professor na agroecologia, pois essa se constitui como um registro da experiência humana no planeta que transcende em muito os três séculos de conhecimento científico gerados pela era moderna.
As práticas dos diferentes povos com a diversidade biológica formam o que ele denomina de memória biocultural.
“Em algum momento o cérebro humano propiciou a criação da palavra e com ela a comunicação e a construção da memória”, disse.
Em sua opinião, a Amazônia seria um dos grandes centros de diversidade biocultural.
“Se há mais de 400 povos na Amazônia, há mais de 400 agroecologias”, afirmou.
Para o professor, é nessa disciplina que deve ser buscada a saída para a crise civilizatória, pois ela acumula experiências que remetem há 10 mil anos, quando da invenção da agricultura.
Narciso enfatiza, no entanto, que a agroecologia não pode ser tratada como uma solução meramente técnica. “Pois não há soberania alimentar sem soberania territorial”, finalizou.
Participação dos povos indígenas no IX CBA.
Foto: Funai
Participação indígena
Representantes das etnias Xukuru, Tingui-Botó, Terena, Amanayé, Kaapor e Apurinã, entre outros, também participaram do IX Congresso Brasileiro de Agroecologia (CBA), o primeiro realizado na Amazônia.
A temática “Diversidade e Soberania na Construção do Bem-Viver”, foi diretamente inspirado nas lutas e concepções do movimento indígena latino-americano.
Durante o evento foi abordada a necessidade de uma Assistência Técnica e Extensão Rural diferenciada (Ater-Indígena). Iran Xukuru, extensionista do Instituto de Agricultura de Pernambuco, destacou que, para os indígenas, a agricultura e a agroecologia passam necessariamente por uma concepção espiritual: “é necessário políticas públicas que compreendam e fortaleçam as diferentes visões de mundo”
CARTA DE BELÉM
Ao final de quatro dias de inúmeros debates o IX Congresso Brasileiro de Agroecologia divulgou um documento com várias propostas e uma moção sobre os impactos negativos dos transgênicos. Confira abaixo mais informações importantes dos dois documentos.
SAÚDE E CONSUMO: MOÇÃO SOBRE IMPACTOS SOCIOECONÔMICOS DOS TRANSGÊNICOS NA SAÚDE E O MEIO AMBIENTE
