Por que as dietas ‘milagrosas’ mais buscadas no Google não funcionam

Frutas e legumes devem fazer parte de uma dieta equilibrada. Foto: Shutterstock

Frutas e legumes devem fazer parte de uma dieta equilibrada. Foto: Shutterstock

Diário Verde publica interessante artigo do nutricionista espanhol Julio Basulto Marset, publicado no portal jornalístico El País (Grupo Prisa) acerca das “milagrosas dietas” que não levam a nada e só enganham seus seguidores, sem falar que podem ser um grande risco à saúde.  Agora a nova moda delas são a dieta alcalina, a Perricone e a 5:2.

“Que tipo de dieta funciona?”, é uma das buscas mais comuns no Google.

Mas “funcionar” e “dieta” são conceitos que não batem, com exceção de alguns charlatões dietéticos que inventam propostas alimentares, ou divulgam uma “dieta milagre” já existente, para nos prometer um sucesso garantido e sem esforço.

Suas promessas convencem milhares de pessoas por dois motivos: nossos conhecimentos em relação à nutrição são escassos, e além disso estamos pouco dispostos, em geral, a mudar nossos hábitos.

 

‘Milagres’ que são um risco à saúde

As “dietas milagre”, como são chamadas pelo Ministério da Saúde, são um risco à saúde. O pior é que alguns desses soldados da dieta definitiva, para nomeá-los de algum jeito, são nutricionistas formados e até mesmo respeitáveis médicos.

São os mais perigosos. Um deles se chama Pierre Dukan. Por sorte, a Ordem dos Médicos de seu país o expulsou em janeiro de 2014, o que coincidiu com o declínio de seu império proteico.

O que aprendemos com isso? Muito pouco, a julgar pelo que revela o “Google Trends”, em relação às dietas mais buscadas na Internet. Falaremos delas daqui a pouco, mas antes, vamos estudar os conceitos “funcionar” e “dieta”.

Se entendemos por “funcionar” conseguir que a balança marque um número que alguém decidiu arbitrariamente, para que a agulha fique ali ad eternum, começamos mal. Se nos mencionarem uma perigosa construção intelectual chamada “peso ideal”, não somente estamos sendo enganados, mas colocando nossa delicada autoestima em risco. O objetivo da perda de peso não deve ser embelezar nossa estética, mas melhorar a saúde.

 

E o que dizer do cada vez mais desvalorizado conceito “dieta”?  

Monserrat Jufresa, catedrática de Filologia Grega. Foto: Divulgação

Montserrat Jufresa, catedrática de Filologia Grega. Foto: Divulgação

Na Grécia clássica, como disse Montserrat Jufresa ao jornalista Antonio Ortí em março de 2015, a “Diaita” (de onde vem o vocábulo “dieta”), se referia ao estilo de vida, a maneira de se viver.

A doutora Jufresa, professora emérita de filologia grega na Universidade de Barcelona, acrescentou que os pitagóricos aplicavam a essa palavra o equilíbrio entre corpo, mente e espírito.

Comer saudavelmente todos os dias, e não somente por um tempo, realizar exercícios físicos diariamente, manter uma boa relação com nossos congêneres e respeitar o meio ambiente, tudo isso significava seguir uma boa dieta.

E mais, a beleza para eles não era de forma nenhuma o “peso perfeito”, tinha um sentido ético. Era impensável ser belo sendo uma pessoa ruim.

Resta algo desse nobre legado? Quase nada, porque a maior parte dos habitantes desse mundo (incluindo os gregos) entendem hoje como dieta um disparatado regime de alimentação a ser seguido durante um tempo, para voltar mais tarde aos nossos (maus) hábitos anteriores.

O objetivo da perda de peso não deveria ser embelezar nossa estética, mas melhorar a saúde

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Vamos então às buscas mais comuns, segundo o Google Trends, de dietas “que funcionam”.

O ouro vai para a dieta alcalina, moda entre pacientes com câncer, por mais que os oncologistas façam seguidas declarações contra ela.

A base científica dessa “dieta” é tão sólida quanto papel para cigarro light: teoricamente devemos seguir uma alimentação de acordo com o pH do sangue. Não vou me estender nas características dessa proposta que diz ser saudável por ser “natural”. Basta dizer que o que comemos e bebemos não altera em nada o pH, como disse em 2008 o Instituto Americano para a Pesquisa do Câncer.

A prata é da dieta Perricone, que leva o nome de um rico dermatologista americano.

Como dissemos antes, quando o sobrenome de uma dieta é o de um médico formado, o perigo aumenta: o médico é uma figura de reputação inquestionável cuja quase mística autoridade exerce uma atração irresistível.

É um fenômeno psicossocial que merece uma análise em separado. Em todo caso, esse dermatologista de Connecticut, de cima de seu pedestal, refere-se ao peso ideal, logo depois de nos garantir o sucesso em pouco tempo (é uma dieta de somente três dias).

Inclui, também, uma lista de alimentos benéficos (basicamente, o salmão) e outra de alimentos proibidos. Além disso, o senhor Perricone nos vende caríssimos complementos alimentares para chegar ao nirvana nutricional. Suas insustentáveis promessas são falsas, mas os riscos de se confiar nelas são verdadeiros.

E a duvidosa honra do bronze vai para a dieta 5:2. Se buscá-la na Internet verá que existem vários tipos de dieta 5:2.

Qual é a boa? Boa, mesmo, nenhuma.

Certamente nasceu inspirada na dieta do jejum intermitente, uma proposta que parte de uma premissa tão simples como sem sentido: durante metade do tempo podemos comer o que nos der na telha, para purgar nossos pecados na outra metade à base de jejuns e verduras cruas.

Tanto essa dieta como sua sucessora, a dieta 5:2, utilizam um jargão pseudocientífico que tenta nos convencer de que nada conhecemos sobre nutrição para que dessa forma fiquemos à mercê de seus divulgadores, que nos guiarão pelo caminho correto.

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Como foi indicado em maio de 2013 pelo NHS Choices, o maior portal de saúde do Reino Unido, essa dieta não é eficaz e não é segura. O mais sensato é ficar longe dela.

Quando a dieta leva o nome de um médico formado, o perigo aumenta

As propostas destas dietas são um insulto à inteligência

Se olharmos de perto as três propostas, podemos esboçar algumas características comuns.

1- Contém afirmações que contradizem conhecimentos científicos bem estabelecidos.

2- Não trazem provas confiáveis de eficácia e segurança baseadas em pesquisas rigorosas em seres humanos.

3- Dizem que suas propostas são válidas por serem “naturais”.

4- Prometem resultados rápidos e sem esforço.

5- Fazem listas de alimentos permitidos e proibidos.

6- É preciso consumir produtos que, coincidentemente, são fabricados pela mesma pessoa que que divulga o método.

7- Podem ser realizados sem o acompanhamento de profissionais da área da saúde (faça você mesmo”).

Como podem ver, não é preciso ter uma percepção muito aguda para detectá-las: são um insulto ao intelecto. Lembre-se: quando alguma coisa é boa demais para ser verdade, não é.

O que comemos e bebemos não altera em nada o pH do sangue

É possível que pensem que não respondi à pergunta com a qual esse texto começa.

Não o fiz pois não tem resposta, e porque muitas vezes reconhecer o que não se deve fazer (é o que tentei explicar nessas linhas) é mais importante do que saber o que devemos fazer. É algo perfeitamente aplicável à nutrição humana, como demonstra o chamado “efeito sanfona”.

Se quiser perder peso, vá a um médico de verdade e consulte um nutricionista reconhecido

Você quer perder peso? Então não faça dieta. Vá ao médico (um médico de verdade, não um terapeuta alternativo), para que ele decida se você precisa perder peso e faça também uma revisão de seu estado de saúde.

Depois, consulte um nutricionista reconhecido. Se for um bom profissional, não o “colocará de dieta”, mas acertará com você para que e como melhorar seus hábitos alimentares, sem esquecer a importância crucial do exercício físico. Mudar nosso estilo de vida e não fazer dieta, mas “Diaita”, aí está o milagre.

Fonte: El País (Julio Basulto)