Para alguns uma opção de vida, para outros um negócio e, para muitos, algo que não faz parte de seu cotidiano. Esta ainda é uma realidade dos produtos orgânicos que precisa ser modificada para dar acesso a uma alimentação mais saudável a todos.
A agricultura orgânica se insere nas agriculturas de base ecológica que incluem os diferentes estilos de agricultura que se desenvolveram ao redor do mundo, como a convencional, transgênica, natural, biodinâmica, sustentável, ecológica, biológica, alternativa, integrada entre outras.
Segundo normas do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), na agricultura orgânica não é permitido o uso de substâncias que coloquem em risco a saúde humana e o meio ambiente.
Não são utilizados fertilizantes sintéticos, solúveis, agrotóxicos e transgênicos e para comercializar seus produtos é necessário que os produtores tenham uma certificação de um Organismo de Avaliação da Conformidade Orgânica (OAC), credenciado junto ao Ministério da Agricultura.
O segmento de produtos orgânicos foi debatido junto com outros produtos de segmentos considerados como nichos de mercado no “I Workshop de Nichos de Mercado para o setor agroindustrial” no ano passado, no Centro de Convenções da Unicamp em Campinas, SP, promovido pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) vinculada ao Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento e seus parceiros.
Além dos orgânicos, o workshop também discutiu também os segmentos de flores, plantas ornamentais e medicinais, bem como produtos derivados da ovionocaprinocultura como o consumo da carne de cordeiro e o leite de cabra, hortaliças minimamente processadas, frutas ainda pouco conhecidas pelos brasileiros, alimentos funcionais e tecidos produzidos com o algodão naturalmente colorido, desenvolvido pela Embrapa.
O tema orgânicos incluindo a produção, comercialização e estudos de caso, foi abordado por Romeu Mattos Leite, coordenador de produção da Vila Yamaguishi, fazenda de produção de orgânicos, em Jaguariúna, SP e por Javier Vilanova da indústria de alimentos orgânicos Jasmine Alimentos, que fica em Curitiba, PR.
A produção e o mercado de orgânicos
A agricultura orgânica se tornou um setor mundial de US$ 64 bilhões em 2014, com 44% das vendas ocorrendo nos EUA, segundo relatório do The World of Organic Agriculture divulgado em fevereiro deste ano durante a Biofach, a maior exposição mundial especializada em produtos orgânicos que acontece em Nuremberg, Alemanha.
O relatório indica ainda que 1,9 milhão de produtores estão certificados em 164 países, chegando a 37,5 milhões de hectares dedicados a produtos orgânicos.
A área de produção expandiu quase 200 mil hectares desde 2011. Em pelo menos 10 países mais de 10% da superfície agriculturável é orgânica.
No Brasil, são 13,5 mil unidades de produção orgânicas certificadas, informa Rogério Dias, coordenador de Agroecologia do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento. A meta do governo é ampliar para 50 mil produtores até 2015.
Segundo o especialista, ainda não existem dados precisos sobre o mercado nacional de orgânicos, já que parte da comercialização é de venda direta em feiras livres feitas por produtores e associações de produtores de orgânicos e outra parte é feita em supermercados e pequenos comércios.
Sobre a exportação de produtos orgânicos no Brasil em 2013 existe o dado de US$ 130 milhões (OrganicsBrazil).
Mas as iniciativas para fomentar o consumo de orgânicos no país não param.
As feiras vão surgindo aos poucos, em Brasília (DF) são 21 pontos de venda; em São Paulo (SP) já são 10, incluindo uma inaugurada recentemente no estacionamento de um shopping; em Curitiba (PR) existe um Mercado Municipal de Produtos Orgânicos que serve de referência na comercialização do produto, os espaços nos supermercados estão aumentando e surgem pequenos comércios voltados para o setor.
No governo federal existem vários programas de incentivo, específicos para a agricultura familiar orgânica ou agroecológica, como o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) Agroecologia e o Pronaf Sustentável, além do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) que colaboram na expansão da produção e consumo dos orgânicos.
Até na Copa do Mundo este ano, no Brasil, os produtores de orgânicos ganharam espaço para promover seus produtos numa ação dentro da campanha governamental “Brasil Orgânico e Sustentável” que pretende fomentar o comércio de produtos orgânicos, com geração de emprego e renda para centenas de trabalhadores.
Gargalos
“As autoridades deveriam começar a obter dados mais detalhados das principais culturas, como frutas, grãos, hortigranjeiros, cereais etc.”
A opinião é da coordenadora do Centro de Inteligência em Orgânicos, da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), Sylvia Wachsner, destacando a inexistência de dados sobre as variedades e os volumes produzidos de orgânicos.
Segundo a especialista, os empresários da agroindústria se queixam da descontinuidade do fornecimento de certos ingredientes o que impede a produção de alguns alimentos.
Outra questão que ela chama a atenção refere-se a carência de veterinários capacitados e de extensionistas na produção animal orgânica.
“Necessitamos de pesquisa para produzir sementes orgânicas de qualidade, incrementar os insumos disponíveis que alavanquem a produção e também não contamos com equipamentos apropriados a pequenos agricultores, forçando-os a lançar mão de adaptações. Soma-se a isso o problema da produção sazonal, que é concebida de forma mais rudimentar”, portanto, ainda existem muitos obstáculos a serem superados (site da SNA).
É preciso organizar a produção, a distribuição, discutir as normas de certificação e principalmente o preço do produto
Alberto Wanderley, que é produtor orgânico e atua como consultor técnico na Secretaria de Agricultura Familiar do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), afirma que um dos pontos cruciais para expandir os produtos orgânicos é a viabilidade econômica da produção.
“É preciso organizar a produção, a distribuição, discutir as normas de certificação e principalmente o preço do produto”. Somente desta forma é possível tornar os produtos orgânicos acessíveis à grande parte da população que hoje é excluída do seu consumo, acredita o consultor.
Em sua opinião, um custo significativo para o produtor orgânico consiste na parte da produção que ele deixa de comercializar, isso acarreta um aumento no custo de produção.
Por outro lado, ele não pode repassar este custo ao consumidor, já que existe um limite de preço que o consumidor está disposto a pagar. O bom senso terá que prevalecer na hora de estabelecer o preço do produto orgânico, senão, ele será sempre um produto de nicho, conclui o especialista.
A primeira experiência com produtos orgânicos pode atrair novos consumidores
Como aumentar o consumo de orgânicos
Wanderley acredita que como forma de ampliar este mercado, é preciso dar oportunidade ao consumidor de ter sua primeira experiência no consumo de orgânicos.
Os produtores, associações e cooperativas que abastecem os diferentes mercados devem proporcionar às pessoas esta oportunidade com ações promocionais de comunicação e divulgação nos pontos de venda, direcionando o excedente da produção para a promoção comercial dos produtos.
“Uma vez que o consumidor prove o produto e reconheça a diferença, novos consumidores serão conquistados” acredita o produtor e consultor do MDA.
Romeu Matos Leite que além de produtor, é membro da Câmara Temática Nacional de Agricultura Orgânica e participante da Comissão Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica do Ministério do Desenvolvimento Agrário – MDA acredita que a educação e a pesquisa têm muito a contribuir para a expansão dos orgânicos no país.
“Além disso, precisamos dar soluções criativas para manter o jovem na propriedade e concretizar a sucessão no campo, que não é um problema apenas da propriedade orgânica, mas, que precisa ser pensada,” conclui Romeu.
Fonte: Embrapa Produtos e Mercados