Confira os resultados de um vídeo experimental com um jovem holandês: no início mau humor e ao final vitalidade
Enquanto o documentário “Super Size Me” (A dieta do palhaço), de 2004, dirigido e estrelado por Morgan Spurlock segue uma dieta overdose sobrevivendo com alimentos exclusivos do MacDonald’s (*), a produtora holandesa LifeHunters realizou em 2015 um vídeo – que já teve mais de seis e meio milhões de visualizações no YouTube (ver abaixo) – procurando mostrar o contrário em uma inédita experiência com o jovem Sacha Harland, segundo matéria no portal El País e que também repercutiu muito em diversos veículos da mídia.
Ou seja, ao invés de alimentar-se exclusivamente de hambúrgueres do Burger King como no filme norte-americano, o protagonista de “Guy Gives up Added Sugar and Alcohol for 1 Month” (Rapaz abandona produtos com adição de açúcar e o álcool por um mês) adota o caminho inverso.
Ou seja, abandona os três pilares da comida prejudicial para a saúde: a adição de açúcar em centenas de alimentos industrializados, o álcool e a junk food (alimentos nocivos)– para passar um mês inteiro praticando uma nutrição saudável.
Mau humor e fome na primeira semana
Em sua primeira semana à base de verduras, frutas e outros produtos frescos não processados, Sacha Harland (abaixo) fica de mau humor e tem fome o tempo todo. Parece sofrer uma pequena síndrome de abstinência e morre por um hambúrguer. Como qualquer pessoa que passeia por uma cidade ocidental, é constantemente incitado a comprar refrigerantes açucarados aonde quer que vá.
No entanto, depois de 25 dias de dieta saudável ele começa a sentir os efeitos benéficos de seu jejum de açúcar e álcool.
Agora lhe custa menos se levantar e sente que tem mais energia.
O balanço final do processo o deixa com quatro quilos a menos, o colesterol reduzido em 8% e a pressão sanguínea 10 pontos mais baixa.
“A partir do momento em que fica cada vez mais difícil comer comida saudável, queríamos saber como se sente uma pessoa que renuncia ao açúcar, ao álcool e aos aditivos durante um mês”, explica Erik Hensel, um dos responsáveis pela LifeHunters.
“Os efeitos físicos e psicológicos foram estranhos. Depois do teste, ele está muito mais consciente do que come. Mas desde que deixou de comer somente produtos frescos e voltou a consumir coisas com açúcar, está com mais dificuldade para dormir e tem menos energia.”
Os autores, que já conseguiram um grande êxito viral com outro vídeo no qual faziam produtos do McDonald’s passarem por comida ecológica em uma feira gastronômica, não pretendem que o teste seja visto como um experimento científico.
Mas, sim, querem alertar sobre o que comemos e as consequências em nosso organismo da presença da adição de açúcar em muitos produtos de supermercado, desde as bebidas (10 torrões em um só ice tea) até os molhos (6 em uma lata de tomate), passando pelos lácteos e os embutidos.
Os demais humanos passariam pelo mesmo se seguissem o caminho de Sasha? Não necessariamente
“Na verdade, acho que não”, afirma a dietista-nutricionista Lucía Martínez, autora do blog Dime Qué Comes (Diga-me o que comes). “Esse sentir-se tão cansado, como doente, me parece um pouco exagerado. Sabemos que ele deixa de tomar açúcar e álcool, mas não conhecemos em detalhe que dieta segue: talvez seja pobre, pouco adequada ou hipocalórica (de fato, perde vários quilos), e se sente mal por isso.”
No entanto, Martínez considera que os efeitos do abandono do açúcar e do álcool são benéficos, sempre como parte de uma dieta saudável.
“É provável que baixe a glicemia de jejum, a insulinemia, que a sensibilidade à insulina aumente, especialmente se a pessoa fizer atividade física, que os triglicérides baixem, que a função hepática melhore (se o consumo de álcool era diário) etc. E provavelmente o peso diminui, se os produtos eram parte da dieta habitual e de consumo muito frequente.”
Açúcar e álcool estão associados a doenças
O também nutricionista Aitor Sánchez García, responsável por Mi Dieta Cojea (minha dieta viciante), coincide na exposição das virtudes de deixar o açúcar e o álcool.
“São calorias vazias e estão associadas com numerosas doenças e patologias. Deixá-los é o início de qualquer tratamento que tente alcançar objetivos que em linhas gerais estejam em conformidade com a “vida saudável”.
Ele também afirma que há certa lógica na leve síndrome de abstinência de que o protagonista padece, algo que as pessoas sentem alguma vez quando ficam algum tempo sem devorar um doce.
“O fato de necessitar ao princípio, e logo depois isso passar, é esperado. No início os canais de recompensa cerebrais estão acostumados a ter mais estímulo do açúcar, há uma espécie de síndrome de abstinência que passa quando os pontos do sabor se acostumam a sabores não tão doces”.
Ambos especialistas consideram que o vídeo contém mensagens acertadas, mas mistura coisas demais.
Mais Informações: El País
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SERVIÇO DIÁRIO VERDE
Confira o vídeo do experimento com Sacha Harland
A história do documentário Super Size Me (” A dieta do palhaço “), por Morgan Spurlock
(*) No filme, Morgan Spurlock segue uma dieta de 30 dias (2004) durante os quais sobrevive em sua totalidade com a alimentação e a compra de artigos exclusivamente do McDonald’s. O filme documenta os efeitos que tem este estilo de vida na saúde física e psicológica, e explora a influência das indústrias da comida rápida. Durante a gravação, Spurlock comia nos restaurantes McDonald’s três vezes ao dia, chegando a consumir em média 5000 kcal (o equivalente de 6,26 Big Macs) por dia durante o experimento.
Antes do início deste experimento, Spurlock, comia uma dieta variada. Era saudável e magro, e media 188 cm de altura com um peso de 84,1 kg. Depois de trinta dias, obteve um ganho de 11,1 kg, uns 11% de aumento da massa corporal deixando seu índice de massa corporal em 23,2 (dentro da faixa “saudável” 19-25) a 27 (“sobrepeso”).
Também experimentou mudanças de humor, disfunção sexual, e dano ao fígado. Spurlock precisou quatorze meses para perder o peso que havia ganhado.
O fator que motivou Spurlock para fazer a investigação foi a crescente propagação da obesidade em todo os Estados Unidos da América, que o diretor do serviço público de saúde dos Estados Unidos da América tinha declarado como “epidemia”.
O filme foca o Mc Donald’s como um dos representantes da indústria alimentar estadunidense, que criou tamanhos exagerados de porções e que, sempre que possível, induz ao consumo de mais e maiores porções, fazendo com que a população consuma muito além do necessário para uma alimentação saudável.
Abaixo, curta de 7 minutos do documentário (em inglês)