Então, só nos resta preparar nossos guarda-chuvas porque esta chuva contaminará nossas cidades e causará doenças, isto sem falar dos resíduos de agrotóxicos a que estamos expostos diariamente em nossos alimentos.
Tudo isto poderá acontecer porque, uma recente medida aprovada no Congresso Nacional e sancionada pelo presidente interino Michel Temer no dia 27 /06, a Lei nº 13.301/2016, libera a pulverização de agrotóxicos por agronaves (aviões agrícolas usadas no campo com a mesma função) nas cidades para combater o mosquito Aedes Aegypti.
Coincidentemente ou não, a inédita proposta veio justo do Sindicato de Aviação Agrícola (Sindag), no mesmo ano em que a venda de agrotóxicos recua 20%.
De nada adiantou que a campanha contra esta medida desencadeada por instituições de peso como a Abrasco, Consea, Consems, Conass, Fiocruz, o próprio Ministério da Saúde para impedi-la.
Os efeitos na saúde da população exposta à pulverização aérea nas lavouras já estão extremamente bem documentados no Dossiê Abrasco.
Perigos para a população urbana
Segundo especialistas em saúde pública como o professor e pesquisador Wanderlei Pignati da Universidade Federal de Mato Grosso (veja abaixo), a pulverização aérea para controle de vetores, além de perigosa porque poderá causar contaminação e doenças é ineficaz.
De acordo com Pignati, essas entidades, juntamente com a Associação Brasileira de Saúde Coletiva – Abrasco, questionam a “eficácia da metodologia” de pulverização, já que essa prática tem causado uma série de problemas ambientais e à saúde, quando aplicada na agricultura.
Até porque, o Brasil já utiliza há mais de 30 anos a aplicação de fumacê naqueles caminhões que pulverizam alguns locais nas cidades no verão.
No entanto, explica o cientista, este procedimentos só serviu para selecionar os mosquitos mais fortes, forçando o aumento nas doses de veneno e a utilização de novos agrotóxicos.
O agrotóxico indicado e usado no Brasil hoje, no fumacê ou em casa, é o Malathion, um componente químico neurotóxico que causa diarreia, vômito e problemas neurológicos.
Documento da OMS de 2015 classificou o Malathion usado no fumacê como possível cancerígeno
A Organização Mundial de Saúde – OMS o classificou como possível cancerígeno em um documento publicado em março de 2015, junto, inclusive, com o outro agrotóxico o herbicida glifosato.
Além disso, também foi publicada pela revista The Lancet Oncology, uma das revistas mais respeitadas do mundo, uma nota da OMS classificando o Malathion como cancerígeno.
E mais grave ainda: o agrotóxico será pulverizado diretamente sobre regiões habitadas. Ou seja, vai chover veneno nas residências, escolas, creches, hospitais, clubes de esporte, feiras, comércio de rua e ambientes naturais, meios aquáticos como lagos e lagoas, além de centrais de fornecimento de água para consumo humano.
Atingirá ainda, indistintamente, pessoas em trânsito, incluindo aquelas mais vulneráveis como crianças de colo, gestantes, idosos, moradores de rua e imunossuprimidos.
Quem é o professor Walter Pignati
Graduado pela Universidade de Brasília – UnB, especialista em Saúde Pública pela Universidade de São Paulo – USP, mestre em Saúde e Meio Ambiente pela Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT. Doutor em Saúde Pública pela Escola Nacional de Saúde Pública Fundação Oswaldo Cruz com a tese “Os riscos, agravos e vigilância em saúde no espaço de desenvolvimento do agronegócio no Mato Grosso”.
Estuda a contaminação das águas e as bacias, além de participar de uma pesquisa no município de Lucas do Rio Verde, em Mato Grosso do Sul, onde há cinco anos ocorreu um grande acidente de contaminação por agrotóxicos por pulverização. Atualmente, leciona na UFMT.
CONFIRA O ALERTA DO CIENTISTA
Mais informações: IHU