A explosiva Operação Carne Fraca deflagrada pela Polícia Federal na última sexta-feira (17/03) caiu como uma bomba no Brasil e no exterior desvendando um escândalo criminoso de gigantescas proporções envolvendo importantes elos da cadeia produtiva, ministérios, e até partidos políticos provocando grande repercussão na imprensa nacional e internacional, agências, sites, portais jornalísticos e redes sociais.
A investigação constatou a distribuição de “carne contaminada por bactérias e lavada com altas doses de produtos cancerígenos” por grandes companhias como a JBS e a BRF, as quais, segundo a acusação, ainda reembalavam produtos vencidos e corrompiam fiscais do Ministério da Agricultura para fazer vista grossa ao esquema criminoso.
O caso também envolve acusação de lavagem de dinheiro em franquia da rede Subway no Paraná, menciona a possibilidade do envolvimento do atual ministro da Justiça, Osmar Serraglio, em conversas com o chefe do esquema criminoso, e partidos políticos como o PMDB e PP.
Confira abaixo, um apanhado do caso elaborado pelo Diário Verde, a partir da repercussão veiculada nos principais órgãos da imprensa brasileira e internacional, de um grave fato que pode abalar a imagem o Brasil, comprometendo a receita comercial dessas exportações, e podendo causar pânico e muita insegurança na sociedade em relação ao consumo de proteína animal.
A AÇÃO
A Polícia Federal deflarou Operação Carne Fraca em seis Estados e no Distrito Federal com o objetivo de desarticular uma organização criminosa liderada por fiscais agropecuários federais e cerca de 40 empresas, entre elas as gigantes JBS – responsável pelas marcas Seara, Big Frango, Friboi e Vigor – e BRF, dona da Sadia e Perdigão, Batavo e Elegê, acusadas de pagamento de propina para a liberação de mercadorias sem fiscalização.
A investigação aponta que os frigoríficos tinham influência para escolher os servidores do Ministério da Agricultura que iriam efetuar as fiscalizações na empresa, por meio de pagamento de propina.
Nas investigações, que duraram dois anos, também foi identificada a possibilidade de parte da propina gerada ter ido para partidos políticos.
Segundo o delegado da PF Maurício Moscardi Grillo, uma fatia teria ido para o PP e o PMDB. A operação detectou que as Superintendências Regionais do Ministério da Pesca e Agricultura do Estado do Paraná, Minas Gerais e Goiás “atuavam diretamente para proteger grupos empresariais em detrimento do interesse público”.
As primeiras informações dão conta de que havia um esquema de pagamento de propinas a fiscais agropecuários do Ministério da Agricultura para que os frigoríficos e as indústrias de alimentos pudessem vender produtos adulterados com produtos químicos e carnes vencidas.
Além das duas “campeãs do setor”, JBS e BRF, outras 29 companhias, escritórios de advocacia e empresas de logística também são alvo da operação, dentre elas a franquia regional do Subway de Londrina/PR, acusada de ser usada para lavagem de dinheiro dentro do esquema da fraude.
Além delas, aparecem na decisão outros frigoríficos grandes e pequenos, como Big Frango e Peccin. Este último é acusado até de vender carne adulterada.
Maior operação da história da Polícia Federal
A operação, considerada a maior da história da corporação, contou com aproximadamente 1.100 policiais federais para o cumprimento de 309 mandados judiciais, sendo 27 de prisão preventiva, 11 de prisão temporária, 77 de condução coercitiva e 194 de busca e apreensão em endereços dos investigados e de empresas supostamente ligadas ao grupo criminoso.
A PF cumpriu mandados nos Estados de São Paulo, Distrito Federal, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Goiás. As ordens foram expedidas pela 14ª Vara da Justiça Federal de Curitiba (PR).
Segundo o jornal O Globo, entre os executivos que foram presos estão o gerente de Relações Institucionais do Grupo BRF, Roney Nogueira dos Santos, e o funcionário da Searea, do grupo JBS, Flavio Cassou.
O jornal afirma ainda que a decisão também prevê o bloqueio de contas bancárias e de aplicações financeiras de até R$ 1 bilhão e o bloqueio de outros bens (sequestro e arresto) de 46 pessoas, entre elas Flavio Cassou, do JBS, e Roney Nogueira dos Santos, do BRF.
A Justiça determinou o bloqueio de até R$ 1 bilhão das contas de 46 investigados na operação.
Investigação revelou que as companhias usavam carnes podres com vitamina C para disfarçar o gosto, frango com papelão, além de pedaços de carne estragadas como recheio de salsichas e linguiças…
CARNE FRACA
O nome da operação faz alusão à conhecida expressão popular em sintonia com a própria qualidade dos alimentos fornecidos ao consumidor por grandes grupos corporativos do ramo alimentício.
A expressão popular demonstra uma fragilidade moral de agentes públicos federais que deveriam zelar e fiscalizar a qualidade dos alimentos fornecidos a sociedade.
A FRAUDE
A investigação revelou que as companhias usavam em suas operações carnes podres com ácido ascórbico para disfarçar o gosto, frango com papelão, pedaços de cabeça e carnes estragadas como recheio de salsichas e linguiças, além de reembalar produtos vencidos.
Os investigadores encontraram diversas irregularidades nos frigoríficos, além das já citadas como o excesso de água, temperatura inadequada nas câmaras frigoríficas, venda de carne imprópria para o consumo humano e assinaturas de certificados para exportação fora da sede da empresa e do Ministério da Agricultura, sem checagem in loco.
Outra constatação foi a do uso de produtos cancerígenos em altas doses para ocultar as caracteristicas que impediriam o consumo da carne pelo consumidor.
Carne podre
A informação de que ao menos um dos frigoríficos usava carne pobre em seus produtos está na decisão da Justiça Federal do Paraná e foi dada pela médica veterinária Joyce Igarashi Camilo.
Ela era a veterinária responsável pelo frigorífico gaúcho Peccin, em 2014, e afirmou que a empresa “também comprava notas fiscais falsas de produtos com SIF (Serviço de Inspeção Federal) para justificar as compras de carne podre, e utilizava ácido ascórbico para maquiar as carnes estragadas”.
Normélio Peccin Filho e Idair Antônio Piccin, sócios do frigorífico, têm algumas de suas declarações mencionadas na decisão, que deixam claro o aval para práticas ilícitas dentro das normas de vigilância sanitária alimentícia.
Secretário Eumar Novacki, do Ministério da Agricultura, afirma que os casos são isolados e não representam um risco à saúde pública…
GOVERNO ABALADO TENTA MINIMIZAR O EPISÓDIO
Para o secretário-executivo do Ministério da Agricultura, Pesca e Agropecuária, Eumar Novacki, os casos de irregularidades apontados pela Operação Carne Fraca nesta sexta-feira (17) são isolados e, portanto, não representam um risco à saúde pública. Mas, segundo ele, os consumidores devem ficar atentos para quaisquers irregularidades em produtos de origem animal.
Novacki afirma que as suspeitas recaem sobre 21 estabelecimentos e 4 grupos empresariais, enquanto o universo de empresas fiscalizadas pelo ministério chega perto de 5 mil. “Não é um fato cotidiano. São fatos isolados, que não representam de modo algum a postura do ministério”, disse.
Frigoríficos interditados
Até o momento, segundo o secretário-executivo do Ministério da Agricultur, três frigoríficos de um universo de 21 suspeitos foram interditados. São eles:
. Unidade BRF Mineiros BRF, Goiás – produção de frango
. Peccin Agroindustrial em Jaguará do Sul (SC) e Curitiba (PR) – produção de salsicha e mortadela.
“As três empresas colocadas sob suspeita já estão interditadas. Já mandamos um documento suspendendo as operações”, afirmou Novacki.
Os outros frigoríficos suspeitos serão investigados a partir da próxima segunda-feira por uma força-tarefa do Serviço de Inspeção Federal, responsável pela fiscalização dos produtos de origem animal.
Funcionários afastados
O governo determinou o afastamento de 33 servidores envolvidos em um esquema investigado pela Operação Carne Fraca. Desses, quatro ocupavam cargos comissionados e já foram exonerados.
Mais informações: Exame.com
REPERCUSSÃO NEGATIVA NO MERCADO
O Walmart Brasil informou que já entrou em contato com todos os fornecedores citados na operação Carne Fraca da Polícia Federal nesta sexta-feira, solicitando esclarecimento, segundo nota.
A empresa afirmou que mantém um rigoroso programa de qualificação e certificação de todos os seus fornecedores de perecíveis, o que inclui certificação em segurança dos alimentos e auditorias, realizadas periodicamente por empresas especializadas contratadas.
As ações da JBS e da BRF lideravam as perdas do Ibovespa na tarde desta sexta-feira (17). Os papéis da JBS registravam queda de 10,68% e da BRF de 8,13%. As ações eram negociadas em 10,66 reais e 36,75 reais, respectivamente.
Além dessas perdas, segundo analistas do mercado, o status do Brasil como exportador de produtos de carne de qualidade passou a ser ameaçado nesta sexta-feira depois que a Polícia Federal revelou um esquema de propina que identificou casos que permitiram a comercialização de alimentos estragados e maquiados por insumos como papelão e produtos químicos.
A operação Carne Fraca, a maior já realizada pela Polícia Federal, identificou uma organização criminosa liderada por fiscais agropecuários federais e cerca de 40 empresas, entre elas as gigantes JBS e BRF e outras como Peccin Agro Industrial.
“Nunca vimos nada parecido antes no setor. Em termos de escândalo, nunca aconteceu nada semelhante. É a primeira vez que se identifica e se dá nome às pessoas. Isso é horripilante”, disse Alex Lopes da Silva, analista especializado no mercado pecuário da Scot Consultoria.
Mais informações: Exame.com
COM A PALAVRA, AS DUAS GIGANTES
JBS
A JBS S.A. comunica aos seus acionistas e ao mercado em geral que, em relação a operação realizada pela Polícia Federal na manhã de hoje, a JBS esclarece que não há nenhuma medida judicial contra os seus executivos.
A empresa informa ainda que sua sede não foi alvo dessa operação. A ação deflagrada hoje em diversas empresas localizadas em várias regiões do país, ocorreu também em três unidades produtivas da Companhia, sendo duas delas no Paraná e uma em Goiás.
Na unidade da Lapa (PR) houve uma medida judicial expedida contra um médico veterinário, funcionário da Companhia, cedido ao Ministério da Agricultura.
A JBS e suas subsidiárias atuam em absoluto cumprimento de todas as normas regulatórias em relação à produção e a comercialização de alimentos no país e no exterior e apoia as ações que visam punir o descumprimento de tais normas.
A JBS no Brasil e no mundo adota rigorosos padrões de qualidade, com sistemas, processos e controles que garantem a segurança alimentar e a qualidade de seus produtos. A companhia destaca ainda que possui diversas certificações emitidas por reconhecidas entidades em todo o mundo que comprovam as boas práticas adotadas na fabricação de seus produtos.
A Companhia repudia veementemente qualquer adoção de práticas relacionadas à adulteração de produtos – seja na produção e/ou comercialização – e se mantém à disposição das autoridades com o melhor interesse em contribuir com o esclarecimento dos fatos.
BRF
A BRF também enviou um comunicado ao mercado afirmando que está colaborando com as autoridades para esclarecimento dos fatos. Disse ainda que cumpre as normas e regulamentos referentes à produção e comercialização de seus produtos. Veja na íntegra.
BRF S.A. (“BRF” ou “Companhia”) (BM&FBovespa: BRFS3; NYSE: BRFS), nos termos da Instrução CVM nº358, de 3 de janeiro de 2002, comunica aos seus acionistas e ao mercado em geral que, em relação à operação da Polícia Federal realizada na manhã desta sexta-feira, está colaborando com as autoridades para esclarecimento dos fatos.
A companhia reitera que cumpre as normas e regulamentos referentes à produção e comercialização de seus produtos, possui rigorosos processos e controles e não compactua com práticas ilícitas. A BRF assegura a qualidade e a segurança de seus produtos e garante que não há nenhum risco para seus consumidores, seja no Brasil ou nos mais de 150 países em que atua.
Fontes e mais informações : Agência Brasil, Agência Brasil – Operação Carne Fraca, Massa News – Como tudo começou, UaiEM – Lista dos investigados, Exame.com – Operação contra corrupção, Exame.com – Frigorífico vendia carne vencida, Exame.com – Internet não perdoa nome da operação PF, Exame.com – Fiscais recebiam propina por certificados sanitários, El País, HuffpostBrasil, O Globo e Infomoney
A COLETIVA DE IMPRENSA DA POLÍCIA FEDERAL 17/Mar/17 (Áudio volume baixo)