Mas afinal quem é o sorgo? Um ilustre desconhecido que possui inúmeras qualidades nutricionais e benefícios para a saúde humana.
O sorgo é uma planta muito parecida com o milho. Quando você vai ao campo, se a pessoa não estiver familiarizada não saberá distinguir se é milho ou sorgo. Mas o sorgo tem características bem diferenciadas do milho. Quem afirma isto é o pesquisador José Avelino Santos Rodrigues, o “Pio”, como é mais conhecido, com especialidade em Melhoramento Genético de Plantas, da Embrapa Milho e Sorgo, Sete Lagoas, Minas Gerais.
O sorgo (Sorghum bicolor L.) é o quinto cereal mais plantado do mundo, superado apenas pelo arroz, seguido do milho, o trigo e a aveia que são os quatro mais cultivados no mundo – embora haja anos em que o milho e o arroz trocam de posição.
É cultivado em áreas e situações ambientais muito secas e muito quentes, já que suporta um elevado grau de estresse híbrido, com alta produtividade, salienta o especialista.
Segundo Pio, é uma planta originária da África, bem mais resistente à seca do que o milho, com inúmeras utilidades. “Nós costumamos falar que tudo se faz com o milho dá para fazer com o sorgo; bolo de farinha, tabule etc., dentre outras aplicações”.
Ele explica que nos continentes africano e asiático 80% do sorgo plantada é utilizado na alimentação humana e 20% na dos animais. Já na América do Norte e Sul, acima de 90% é direcionado à nutrição animal (bovinos de corte, leite, aves e suínos) para produzir carne, leite e ovos, seja na forma de grão ou forragem.
Sorgo surgiu há 5 mil anos, sendo fonte de nutrientes e energia para 500 milhões de pessoas na África, Ásia e Índia
A planta foi domesticada para consumo humano e animal na África, entre 3 mil e 5 mil anos atrás, posteriormente difundido para a Índia e a China. Estima-se que no mundo, atualmente, mais de 35% é cultivado para o consumo humano e o restante destinar-se à alimentação animal (aves, bovinos e suínos).
O sorgo é uma excelente fonte de nutrientes para mais de 500 milhões de pessoas em 30 países na África e na Ásia, continentes responsáveis por mais de 95% do total utilizado como alimento humano no mundo.
O consumo desse cereal pela população africana chega a quase 75% do total dos grãos produzidos no país.
Na Ásia, os principais países consumidores são a China e a Índia,que respondem por quase 90% do total (FAO, sigla em inglês para Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, 1995).
Os grãos do cereal são empregados no preparo de diversos pratos e bebidas típicas mundo afora. Vão do cuscuz (África), nasha e ogi (alimentos para lactantes; o primeiro no Sudão e o segundo na Nigéria), e kisra (pão fermentado do Sudão).
Mas também há os dolo, tchapallo, pito, burukutu (cervejas tradicionas africanas), roti e chapatti (pães não fermentados, comuns na Índia, Bangladesh, Paquistão, países árabes), as torfilhas (América Latina) etc.
No Brasil chegou junto com os escravos
Conta a história que o o sorgo chegou ao Brasil trazido pelos escravos pelos idos de 1600. Só que ficou aqui latente, plantado aqui e ali.
Comercialmente a cultura do sorgo começou mesmo a partir de 1960 plantado para produção de grão e silagem na agricultura comercial (nutrição animal). Depois a pesquisa descobriu outros usos para o grão que vão da geração de energia, álcool, açúcar e até na produção de vassouras.
“Embora seja um excelente alimento funcional com propriedades como o tanino e outras propriedades, ainda há muito preconceito no Brasil na alimentação humana”, explica o pesquisador Pio.
Embora o cereal tenha aportado com os navios negreiros, seu uso foi basicamente na nutrição animal de aves, bovinos e suínos, conforme já mencionado.
Alimentação humana
Aqui no Brasil, na década de 80 foi iniciado um trabalho de desenvolvimento de produtos de panificação com substituição parcial (cerca de 20%) de farinha de trigo por farinha de sorgo, mas na época, o foco era apenas de reduzir o custo dos produtos à base de trigo.
Com o aumento da produção de trigo no país (embora o país ainda não seja autossuficiente e ainda importa o cereal) o preço foi caindo e esse trabalho não teve continuidade.
Quem relata esta experiência inicial é a pesquisadoraValéria Aparecida Vieira Queiroz, da área de Nutrição e Segurança Alimentar da Embrapa Milho e Sorgo, Sete Lagoas/MG.
Segundo a pesquisadora, em 2008, a Embrapa começou a trabalhar com o sorgo para alimentação humana sob um novo aspecto, o de utilização do cereal em sua forma integral e com substituição total do trigo, visando a promoção da saúde e a produção de alimentos sem glúten.
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