Produção de alimentos 3: Fornecimento alimentar sustentável

 

73Garantir-se um fornecimento sustentável de alimentos para uma população mundial em rápido crescimento é um grande desafio. A produção de alimentos é uma das áreas chave que exige acção, juntamente com questões relacionadas com o consumo de alimentos, nutrição e segurança alimentar.

Estima-se que em 2050 a população mundial seja de 9,1 biliões (34% mais elevada que actualmente). A produção de alimentos terá que aumentar 70% para se conseguir alimentar esta população mais numerosa e, muito provavelmente, mais urbana.1 Terão que se produzir mais alimentos, utilizando-se menos terreno. Mais, a água e a energia serão factores limitantes.

Além disso, os produtos alimentares sustentáveis têm que ser nutricionalmente densos, permitindo aos indivíduos praticar uma alimentação diversificada, que contenha uma combinação equilibrada e adequada de energia e nutrientes, contribuindo para um bom estado de saúde.2

O que é a produção sustentável de alimentos? 
A produção sustentável de alimentos é “um método de produção que faz uso de processos e sistemas que são não-poluentes, conservam a energia e os recursos naturais não renováveis, são economicamente eficientes, são seguros para os trabalhadores, comunidades e consumidores e não comprometem as necessidades das gerações futuras”.3

Impacto ambiental da produção de alimentos 
Os métodos de produção global de alimentos têm que alterar de forma a conseguir-se minimizar o impacto ambiental e a suportar a capacidade de se produzirem alimentos no futuro, a nível mundial. À semelhança de outras actividades realizadas pelo Homem, a produção de alimentos contribuiu para alterações climáticas, escassez de água, degradação dos solos e para a destruição da biodiversidade.3,4

Estima-se que 25% das emissões totais de gases com efeito de estufa sejam directamente causadas pela produção agrícola e animal e silvicultura.5 Os sectores de produção agrícola e pecuária utilizam 70% dos recursos de água doce e, juntamente com a silvicultura, ocupam 60% da superfície terrestre.2

O nível do impacto ambiental da produção de alimentos relaciona-se com o lugar e a forma como os alimentos são produzidos e a disponibilidade local de recursos naturais, como água e solo. Frequentemente, pesam-se as vantagens e os inconvenientes entre factores ambientais, sendo que, até ao momento, não existe um conjunto de princípios simples que determinem se um produto alimentar é ambientalmente mais sustentável do que outro.

Acções para tornar a produção de alimentos mais sustentável 
A Comissão Europeia (CE) está a avaliar a melhor forma de reduzir o impacto ambiental da produção de alimentos e de limitar o desperdício da cadeia de abastecimento alimentar.6 Até 2020, a CE tem por objectivo reduzir os inputs de recursos da cadeia alimentar em 20%, através de incentivos a uma produção e consumo mais sustentáveis de alimentos.

Neste sentido, podem ser feitos progressos no imediato, fazendo-se uso do know-how e de tecnologias actuais. Algumas acções que tornam a produção de alimentos mais sustentável, identificadas pela CE e nos planos de sustentabilidade de empresas agroalimentares, incluem:

Uso eficiente de recursos naturais

  • Reduzir a utilização de combustíveis fósseis e optimizar a utilização da água na produção.
  • Optimizar a utilização dos terrenos e reduzir a sua conversão para a agricultura.
  • Conceber locais de fabrico de alimentos eficientes em termos de utilização de energia e água.

Protecção da qualidade de recursos naturais

  • Uso apropriado de fertilizantes e pesticidas de forma a minimizar a poluição dos solos e dos cursos de água.
  • Reduzir as emissões de gases de efeito de estufa para ajudar a manter a qualidade do ar.
  • Reverter a perda de solo, restaurar o conteúdo em matéria orgânica do solo.
  • Aumentar a biodiversidade através de práticas agrícolas que salvaguardem terrenos, água e recursos energéticos e áreas florestais.

Protecção dos recursos marinhos

  • Implementar práticas de pesca sustentáveis de forma a conservar as populações de peixes e eliminar capturas acessórias (que acontecem incidentalmente).
  • Reduzir a poluição das áreas costeiras (por exemplo, dos fertilizantes e lixo).

Procurar ingredientes alimentares derivados de fontes sustentáveis, por exemplo:

  • Produtos de pesca certificados pelo Marine Stewardship Council (MSC). O MSC trabalha com pescarias que promovem práticas de pesca sustentáveis que asseguram que a actividade de pesca corresponde a um nível que pode continuar indefinidamente, permitindo a manutenção do ecossistema.
  • Produtos à base de óleo de palma certificados pelo programa Roundtable on Sustainable Palm Oil (RSPO) e outros similares. Estas iniciativas asseguram que os produtos à base de óleo de palma são produzidos sem prejudicar indevidamente o meio ambiente, por exemplo, convertendo as florestas tropicais em áreas agrícolas (desflorestação). Existem iniciativas semelhanças para outros produtos, nomeadamente para a soja.

Uso de embalagens alimentares ambientalmente eficientes

  • Optimizar a utilização de embalagens.
  • Materiais que apresentem menor impacto ambiental.
  • Materiais reciclados.

Reduzir o desperdício alimentar

  • Estratégias técnicas como reformulação dos produtos para estender o seu tempo de prateleira e utilização de embalagens funcionais para reduzir a deterioração e o desperdício de alimentos perecíveis.
  • Reduzir os resíduos enviados para aterros (por exemplo, doar o excesso de alimentos a instituições de caridade locais, usar na alimentação de animais…).

A Comissão Europeia está a desenvolver esforços para perceber de que forma se pode criar um sistema alimentar com melhor aproveitamento dos recursos e mais sustentável, esperando-se para breve a publicação de mais relatórios.7

Conclusão 
Artigos já publicados no Food Today explicaram de que forma a produção de alimentos pode atender à necessidade de uma oferta alimentar nutritiva e segura, na qual os consumidores possam confiar. Este artigo ilustra que se podem realizar alterações imediatas na produção alimentar para a tornar mais sustentável. É essencial que os governos e a indústria invistam na investigação, desenvolvimento e inovação, para se assegurar que o sistema alimentar consegue satisfazer, de forma sustentável, as exigências e as necessidades de uma população mundial em crescimento.
Referências

  1. Food and Agriculture Organization of the United Nations (FAO) (2009). How to Feed the World in 2050. Rome: FAO.
  2. Food and Agriculture Organization of the United Nations (FAO) (2013). Healthy people depend on healthy food systems.
  3. Foresight (2011). The Future of Food and Farming: Challenges and Choices for Global Sustainability. Final Project Report. London: Government Office for Science.
  4. Food Chain Evaluation Consortium (2014). Scoping study. Delivering on EU food safety and nutrition in 2050 – Scenarios of future change and policy responses. Brussels, Belgium: European Commission.
  5. Food and Agriculture Organization of the United Nations (FAO) (2014). Building a common vision for sustainable food and agriculture: principles and approaches. Rome, Italy: FAO.
  6. COMUNICAÇÃO DA COMISSÃO AO PARLAMENTO EUROPEU, AO CONSELHO, AO COMITÉ ECONÓMICO E SOCIAL EUROPEU E AO COMITÉ DAS REGIÕES Roteiro para uma Europa Eficiente na utilização de recursos. COM/2011/0571 final.

European Commission website, Sustainable Food section.

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