A”pancada”: exportações diárias de carne caem de US$ 63 milhões para US$ 74 mil, enquanto no mercado interno o consumidor está arredio

 

Ministro da Agricultura Blairo Maggi, durante audiência conjunta das comissões de Assuntos Econômicos e de Agricultura no Senado,  afirmou que o país pode perder US$ 1,5 bilhão em exportação de carnes em 2017.
Foto: Divulgação

 

O Brasil é o maior exportador de carne do mundo e detém 21 por cento do mercado mundial, segundo a Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil.  Somente em 2014, o Brasil vendeu carne bovina in natura para 151 países e industrializada para 103 países. Mas as irregularidades flagradas pela Operação Carne Fraca, da Polícia Federal, fizeram as exportações de carnes e derivados despencarem. Diário Verde repercute o intenso noticiário da imprensa sobre os efeitos na produção, nas vendas externas e no consumo interno. Acompanhe. 

 

De uma média diária de US$ 63 milhões, os embarques caíram para US$ 74 mil anteontem, segundo dados divulgados pelo ministro da Agricultura, Blairo Maggi, em reunião na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado. “A gente não sabe o tamanho da pancada que vai levar”, disse.

Ainda assim, ele estimou que as exportações poderão recuar perto de 10%, ante um total de US$ 15 bilhões em 2016. Ou seja, uma perda de US$ 1,5 bilhão no ano. “Vamos trabalhar muito para que isso não aconteça.”

Em audiência conjunta das comissões de Assuntos Econômicos e de Agricultura no Senado na quarta-feira (22/3), o ministro disse, em referência aos embargos, que “o que estamos sofrendo hoje é uma pancada, um soco no estômago”.

Maggi acrescentou que “temos que viajar pelo mundo, andar novamente, efetivamente mostrar que houve desvios de algumas pessoas e não do sistema”, afirmou Maggi, que estima que o país pode perder US$ 1,5 bilhão em exportação de carnes em 2017. Temos que lutar para manter a participação de 7% do Brasil no comércio mundial de alimentos e não mais aumentar para 10% como era nosso plano até 2020″, completou.

Na audiência, o ministro da Agricultura salientou que a atenção do governo está voltada à China e a Hong Kong, os dois maiores importadores de carnes. “Ainda não temos posição clara de quando eles vão retirar a suspensão”. Ele reforçou que vai continuar intensificando o contato com representantes dos países importadores deve contatar o ministro da Agricultura da Rússia, também um importador relevante.

Com agravamento da situação e forte queda nas exportações diárias de carnes, Brasil tem de ‘lutar’ para manter sua participação no mercado mundial de alimentos

Na quarta-feira (22/3), mais cinco países entraram na lista dos que impuseram alguma restrição às carnes brasileiras. O Ministério da Agricultura informou que a África do Sul suspendeu temporariamente as importações dos 21 estabelecimentos investigados na Operação Carne Fraca. Já a Arábia Saudita, maior cliente do frango brasileiro, comunicou que vai suspender as compras dos quatro estabelecimentos frigoríficos suspeitos de irregularidades apontadas na operação.

 

Segundo o órgão federal, os Emirados Árabes paralisaram o desembaraço de carnes brasileiras até a validação de testes por amostragem.

Com base em informações repassadas pela JBS, o ministério disse que o Panamá comunicou a suspensão temporária da importação de carne bovina processada.

As Bahamas, por meio da embaixada brasileira em Nassau, também avisou que suspendeu temporariamente as importações de carnes brasileiras.

O ministério recebeu ainda pedidos de informações do Canadá, mas informou que não houve nenhum comunicado sobre possível restrição às importações de carne pelo país da América do Norte.

Os novos países a restringir as carnes brasileiras ontem se juntaram a China, Hong Kong, Egito, Chile, Argélia, Jamaica, Trinidad e Tobago, que já haviam suspendido temporariamente as compras do Brasil.

Há ainda Japão e União Europeia, que embargaram apenas as importações de produtos das 21 unidades frigoríficas investigadas na operação.

JBS  suspende produção de carne bovina em 33 unidades

O portal Estadão.com noticia que a JBS anunciou quinta-feira (23/3), em nota, que suspendeu, por três dias, a produção de carne bovina em 33 unidades das 36 que a empresa mantém no País. Para próxima semana, a companhia irá operar em todas as suas unidades com uma redução de 35% da sua capacidade produtiva.

 

“Essas medidas visam ajustar a produção até que se tenha uma definição referente aos embargos impostos pelos países importadores da carne brasileira. A JBS ressalta que está empenhada na manutenção do emprego dos seus 125 mil colaboradores em todo o Brasil”, destacou o comunicado.

Suínos e aves: prejuízos de US$ 40 milhões em uma semana

O Brasil é o maior exportador de carne de frango do mundo, enviando produtos para 203 países e cinco continentes, representando 15% da produção mundial de frango e cerca de 37% das exportações mundiais. O país é também o quarto maior produtor e exportador de suínos do mundo, de acordo com a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA).

Segundo comunicado da entidade na sexta-feira (24/3) , as exportações brasileiras de carnes de suínos e de aves acumulam prejuízos de US$ 40 milhões relacionados aos bloqueios de países compradores na última semana, depois que a Polícia Federal anunciou uma operação para desmantelar um suposto esquema de corrupção envolvendo 33 inspetores sanitários públicos e 21 plantas frigoríficas.

As perdas totais com exportações de carne de aves e suínos são equivalentes a 22% da receita média semanal de embarques (US$ 185,7 milhões), informou a ABPA.

A perda na receita de exportação de carne de frango é de 20% em uma semana, enquanto as vendas internacionais de suínos tem queda de 33%. Já 14% da receita total dos embarques de perus foi perdida.

Hong Kong ordena recolher toda a carne brasileira do mercado local

O maior impacto da indústria na redução de vendas vem da Ásia. A China é o segundo maior importador de carne de frango do Brasil e o terceiro maior importador de suínos. Hong Kong é o segundo maior importador de carne suína brasileira e sexto para importação de carne de frango.

A Agência Reuters informa que o governo de Hong Kong decidiu na sexta-feira (24/3)  ordenar recolhimento do mercado local de toda a carne produzida nos 21 frigoríficos brasileiros colocados sob suspeita pela Polícia Federal na operação Carne Fraca.

Hong Kong já tinha decretado proibição de importações à carne brasileira nesta semana. Agora, o secretário para Alimentos e Saúde, Ko Wing-man, afirmou à imprensa que o bloqueio vai continuar, mas o escopo da proibição será ajustado, dependendo do progresso das investigações do Brasil sobre o escândalo.

Brasil apela para Organização Mundial do Comércio

Diante de uma proliferação de barreiras, o Brasil apelou aos demais países na Organização Mundial do Comércio (OMC) para que não adotem medidas “arbitrárias”, implementadas sob a justificativa de estar protegendo seus consumidores após a revelação da fraude no setor de carnes.

Em um documento enviado na quarta-feira (22/3) a 164 países, o Itamaraty insistiu que o sistema de controle sanitário do país é “sólido” e tentou minimizar a dimensão do problema, apontando que apenas um número pequeno de fiscais e funcionários foi alvo de suspeitas.

O discurso vem no momento em que o governo de Michel Temer está enfrentando uma onda de embargos pelo mundo e um impacto profundo nos embarques de carne. China, Canadá, Hong Kong, México, Arábia Saudita, Catar, Trinidad e Tobago, África do Sul, Suíça, Chile, União Europeia, Japão e Jamaica já suspenderam em parte a importação dos produtos nacionais.

Em uma linguagem diplomática, o Brasil alertou que iria examinar as barreiras impostas e que não iria aceitar exageros por partes dos parceiros. Na OMC, o governo optou por insistir que o caso no Brasil se refere à corrupção, e não sobre a qualidade do produto.

Conheça a Comunicação do Brasil à OMC

Fontes e mais informações: Valor Econômico, Estadão.com, Agência Brasil, CarneTec, Reuters, Rádio Jovem Pan e Terra Viva

 

 

 

 

 

Ministro da Agricultura faz um balanço dos prejuízos econômicos após a Operação Carne Fraca