Aquaponia alia a criação de peixes com a agricultura.
Foto: Clarissa Neher
Desenvolver um meio de produção de alimentos em larga escala sustentável, que não necessitasse de tantos recursos e fosse menos poluente do que a agricultura tradicional. Este foi o principal objetivo da criação do sistema de fazendas ECT, que inaugurou em março deste ano, em Berlim (Alemanha), uma das maiores fazendas aquapônicas urbanas do mundo.
“A aquaponia, que combina a criação de peixes e a agricultura, é sistema antigo usado pelos astecas e chineses. O que nós fizemos foi profissionalizar a técnica para a produção comercial”, destacou à BBC Brasil Nicolas Leschke, um dos criadores do sistema de fazendas ECT.
A partir de maio, os moradores de Berlim poderão comprar os primeiros legumes produzidos por esse sistema, relata a reportagem de Clarissa Neher.
Os peixes criados no local, no entanto, estarão à venda a partir de outubro. A estufa de 1,8 mil metros quadrados construída no bairro de Schöneberg, ao sul da capital alemã, tem capacidade de produzir anualmente cerca de 35 toneladas de vegetais e 25 toneladas de peixe.
Água da chuva
Um dos diferenciais da fazenda ECT o é aproveitamento da água da chuva, que corresponde a cerca de 70% do total desse recurso utilizado no sistema.
Além disso, esse uso é totalmente sustentável.
A água da criação de peixes é enriquecida naturalmente pelos resíduos produzidos pelos animais. Essa água rica em nutrientes, por sua vez, é usada na irrigação das plantas.
O CO2 gerado na criação dos peixes também é “reciclado”.
Ao ser direcionado para a estufa, ele age como um fertilizante adicional para os legumes e as verduras.
Caixa com legumes e verduras custa 15 euros e é entregue no mercado
Os produtos comercializados são orgânicos, inclusive os peixes que são alimentados apenas com ração orgânica. Além disso, não são utilizados pesticidas e fertilizantes químicos na produção dos vegetais.
Outra grande vantagem da fazenda urbana é a proximidade do consumidor.
“Por estarmos no meio da cidade não temos mais custos com transporte e nossos alimentos chegam mais frescos aos clientes”, diz Robert Dietrich, um dos “farmerboys”, como são chamados os funcionários do local.
Cerca de cinco funcionários são necessários para tocar a fazenda, que combina o uso de um sistema computadorizado para irrigação e controle de temperatura com a plantação manual das mudas.
Atualmente estão sendo produzidos no local tomate, pepino, pimentão, berinjela, diversos tipos de salada, temperos e os chamados microgreens – pequenos vegetais ricos em nutrientes. O sistema, no entanto, pode produzir cerca de 400 espécies de plantas.
Inauguração lotada
A fazenda e o mercado foram inaugurados na última semana. O evento atraiu pessoas de todas as idades e potenciais clientes. Os produtos, no entanto, não serão comercializados avulsos como nos mercados e feiras tradicionais.
Os consumidores precisam fazer uma assinatura para receber semanalmente uma caixa com diversos legumes e vegetais colhidos no local. Sua composição varia conforme a colheita.
Cada caixa custa 15 euros (pouco mais de R$ 50) e é entregue no mercado ao lado da estufa. A fazenda tem capacidade de produção inicial de 300 caixas por semana.
Já os peixes serão retirados dos tanques de acordo com a demanda.
Kathrin Hoffmann que foi conhecer o projeto aprovou essa forma de agricultura e criação de peixes e pretende apoiar a iniciativa.
”Os alimentos produzidos aqui são relativamente caros, mas de vez enquanto, para ocasiões especiais, dá para comprar a caixa de legumes e verduras”, afirma.
Mercado fica situado ao lado da estufa
Os produtos comercializados são orgânicos, inclusive os peixes que são alimentados apenas com ração orgânica. Além disso, não são utilizados pesticidas e fertilizantes químicos na produção dos vegetais.
A empresa ECT foi criada em 2012 e usou um container como protótipo para desenvolver a técnica aplicada na fazenda. A construção da estufa levou seis meses e custou mais de 1 milhão de euros (cerca de R$ 3,3 milhões). O projeto foi financiado por um fundo de capitais e um investidor privado.
Uma segunda fazenda ECT já está sendo construída na Suíça.
Será que ideias semelhantes dariam certo aqui no Brasil?
Fonte: EcoD