Relatório do órgão federal revela que a comercialização de venenos aumentou de forma desproporcional à área plantada, o que sugere intensificação do uso e, consequentemente, risco maior de contaminação, segundo o portal do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec).
O uso ostensivo de agrotóxicos no Brasil e um crescimento desproporcional da sua comercialização em comparação com a área cultivada foi objeto de documento lançado em setembro pelo Ministério da Saúde. No período entre 2007 e 2013, as vendas aumentaram 90,5% no país, enquanto a área plantada aumentou apenas 19,5%.
O dado sugere que houve uma intensificação na aplicação de agrotóxicos na produção e, com isso, um risco maior de exposição da população a partir do trabalho no campo e da contaminação do meio ambiente, da água e dos alimentos.
O relatório apresenta dados sobre a evolução dos casos de intoxicação por agrotóxicos no país e aponta que, no período de 2007 a 2014, São Paulo foi o estado com o maior número de casos notificados (12.562), seguido por Paraná (10.967 casos), Minas Gerais (10.625 casos) e Pernambuco (5.734 casos).
O Ministério da Saúde admite, porém, que há subnotificação expressiva das intoxicações por agrotóxicos, contribuindo para invisibilidade da magnitude do problema no país. O relatório também aponta que o glifosato é o agrotóxico mais utilizado no país.
Em 2015, esse princípio ativo foi classificado como provavelmente cancerígeno para humanos pela Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC, na sigla em inglês), órgão vinculado à Organização Mundial da Saúde.
A nutricionista e pesquisadora do Idec Mariana Garcia aponta que é fundamental avançar no monitoramento do uso de agrotóxicos e na transparência dos resultados para os consumidores, já que, infelizmente, a maioria dos brasileiros consome-os diariamente.
“O relatório do Ministério da Saúde dá um passo nessa direção. Entretanto, ainda há um longo caminho a percorrer, principalmente em relação ao monitoramento de resíduos de agrotóxicos nos alimentos e na água e os impactos para a saúde dos consumidores.”, afirma.
SERVIÇO DIÁRIO VERDE
Confira um trecho do relatório do Ministério da Saúde
A política agrícola de modernização no campo adotada pelos governos brasileiros a partir da década de 1960, baseada na monocultura e no uso intensivo de agrotóxicos, foi também incentivada por meio de isenções fiscais cedidas às indústrias químicas formuladoras de agrotóxicos.
Esse modelo de desenvolvimento vem gerando impactos sociais e ambientais de curto, médio e longo prazos, os quais são custeados por toda a população por meio de gastos públicos com recuperação de áreas contaminadas, prevenção, diagnóstico e tratamento de intoxicações agudas e crônicas, afastamentos e aposentadorias por invalidez de trabalhadores rurais e até mortes por utilização dessas substâncias, sem que haja a socialização desses custos de responsabilidade direta das indústrias químicas.
Venda de agrotóxicos no Brasil faturou US$ 12,2 bilhões em 2014. Já a comercialização aumentou 90,49% entre 2007 e 2013, segundo o relatório do MS
Em 2014, a Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim) anunciou o aumento de 13% nas vendas de agrotóxicos no Brasil, com um faturamento líquido de US$ 12,2 bilhões (R$ 25 bilhões), contra US$ 11,5 bilhões (R$ 22 bilhões) em 2013, segundo dados aportados pelo Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal (Sindiveg).
Enquanto isso, o Brasil figura entre os maiores consumidores de agrotóxicos do mundo e os prejuízos à saúde humana e os perigos e acidentes envolvidos na sua manipulação são creditados ao seu “uso incorreto” e não à toxicidade das formulações e à imposição generalizada do modelo agroquímico de produção no País. (Abreu, 2014; Associação Brasileira da Indústria Química, 2014).
Entre 2007 e 2013, a relação de comercialização de agrotóxicos por área plantada aumentou em 1,59 vezes, passando de 10,32 quilos por hectare (kg/ha) para 16,44 kg/ha1.
Nesse período, o quantitativo de agrotóxicos comercializados no País passou de, aproximadamente, 643 milhões para 1,2 bilhão de quilos, e a área plantada total aumentou de 62,33 milhões para 74,52 milhões de hectares. Isso representa um aumento de 90,49% na comercialização de agrotóxicos e uma ampliação de 19,5% de área plantada.
Segundo o relatório da Anvisa e da Universidade Federal do Paraná (UFPR) (2012), o mercado nacional de agrotóxicos cresceu 190% entre 2000 e 2010, superando o crescimento mundial de 93%
Mais informações: Relatório Nacional de Vigilância em Saúde de Populações Expostas a Agrotóxicos