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Os hippies idealistas que viraram capitalistas com um milionário império vegano

 

Bob Goldberg (à esq.) e seus três amigos e fundadores da loja inicia l eram parte do movimento de contracultura no final dos anos 60. Foto: BBC

 

Conheça esta curiosa  história relatada pelo portal jornalístico  BBC  News Brasil sobre jovens idealistas que iniciaram a venda de comida vegetariana em 1970, em Los Angeles, Califórnia, para a comunidade hippie e cuja iniciativa transformou-se em uma empresa que movimenta milhões de dólares. 

 

‘Siga seu coração’. Esse é um lema fácil de repetir, mas difícil de colocar em prática nos negócios.

Mas o empresário Bob Goldberg – cuja firma se chama Follow Your Heart (“Siga seu coração”) – é um exemplo de que é possível ter um negócio rentável sendo fiel aos princípios idealistas da companhia.

Ou seja, ele criou um idealismo que se tornou rentável.

Goldberg tinha 25 anos quando, junto com três amigos, começou a vender comida vegetariana em um café em Los Angeles, Califórnia, em 1970. A clientela era exclusivamente hippie, a comunidade da contracultura.

Hoje em dia, a companhia produz e distribui milhões de frascos de “veganese”, um tipo de maionese feito sem adição ovos, além de uma variedade de queijos veganos e produtos sem glúten.

Com uma projeção de vendas entre US$ 40 milhões (R$ 134 milhões) e US$ 50 milhões (R$ 168 milhões) para este ano fiscal (2016), os alimentos veganos e os produtos que servem de alternativa à carne e aos lácteos já não são considerados parte da contracultura.

No início, o café de Goldberg e de seus amigos ficava na parte traseira de um supermercado no subúrbio de Canoga Park, em Los Angeles, e servia um público ávido por comer sanduíches de abacate e gérmen de soja em meio a sons de sinos e odor de incenso.

 

Bob Goldberg disse estar maravilhado com o fato dos alimentos veganos terem se transformado em produtos de consumo diário. Foto: BBC

 

Pouco depois, os quatro sócios expandiram o negócio para todo o supermercado e seguiram seus corações ao retirar das prateleiras todos os produtos com carne. As pessoas disseram que eles estavam loucos e que o negócio nunca prosperaria.

“Em vez de decair e desaparecer completamente, a loja começou a ter muito êxito”, segundo Bob Goldberg, que hoje tem 71 anos.

“Creio que as pessoas não tinham se dado conta de como era cômodo para alguém que não queria estar rodeado desses produtos (de carne) ir a uma loja onde podiam comer qualquer coisa”.

Terremoto e revés

Desde o início, a missão corporativa de Goldberg foi se importar com o meio ambiente, ser compassivo, vegetariano… e rentável.

Seus fundamentos idealistas também incluíam “não passar a metade da minha vida em um avião”. Por isso, abrir filiais em outros locais não seria fundamental na agenda da empresa.

Image captionA empresa vende principalmente no atacado, mas ainda mantém um supermercado.

Assim, apesar do café e do supermercado ainda prosperarem em Canoga Park, depois de 46 anos, o negócio principal do Follow Your Heart é a venda por atacado. A operação está localizada em um centro de produção a alguns quilômetros de distância.

Lá são confeccionados os produtos que são distribuídos a varejistas nos Estados Unidos e no resto do mundo.

Mas nem sempre os negócios foram tão bem.

 

A empresa vende principalmente no atacado, mas ainda mantém um supermercado. Foto: BBC

 

Uma tentativa de abrir um segundo café com uma loja em Santa Bárbara, a 160 quilômetros ao norte de Los Angeles, fracassou e dois dos fundadores saíram do negócio em meados dos anos de 1980, porque seu desejo de lançar uma cadeia de armazéns não teve apoio.

No fim, os dois venderam suas ações a Goldberg e ao último dos fundadores, Paul Lewin.

A empresa também teve que lidar com o forte terremoto que afetou Los Angeles em 1994 – que causou danos graves ao café.

Durante uma visita à fabrica, Goldberg mostra as claraboias e o sistema de captação de energia solar – além de explicar suas estratégicas para tentar mitigar a pegada de carbono da empresa.

Empregados usando uniformes brancos e redes para prender o cabelo mexem em grandes lotes de “veganese” e queijo vegano. Em uma doca de carga, um caminhão pipa despeja 45 mil litros de óleo de sementes de uvas em um tanque.

“Podemos processar um desses aqui em um turno”, explica Goldberg – que emprega 225 pessoas e vende seus produtos em 17 países, incluindo Grã-Bretanha, Israel e México. As exportações equivalem a mais de 10% das vendas totais.

 

A loja e o café continuam funcionando 46 anos depois. Foto: BBC

 

Crescimento lento

Quando a Follow Your Heart começou, a palavra “vegano” não era muito conhecida e era pouco usada. Agora, a companhia comercializa muitos de seus produtos com o rótulo “à base de plantas” para atingir o crescente número de consumidores conscientes de sua saúde.

Em seu cargo de gerente executivo, Goldberg optou por manter a empresa independente, evitando ofertas frequentes de investidores de risco interessados no mercado vegano, que está na moda.

“Muitos investidores têm demonstrado interesse”, disse ele.

“É muito difícil para uma empresa crescer e manter seus valores. É algo em que me concentro muito”, disse ele. Goldberg afirmou que não quer colocar os interesses dos acionistas acima do que é certo para os clientes, empregados e produtos.

Brien Todd, diretor-executivo do serviço de informação da indústria alimentícia dos Estados Unidos, The Food Institute, afirmou que a Follow Your Heart se encontrava singularmente adiantada das demais em relação à crescente demanda por produtos veganos e vegetarianos.

“Começaram lentamente e construíram um negócio muito bom”, afirma Todd. Essa prática contrasta com a pressão que muitas empresas novas recebem para crescer o mais rápido possível, o que pode ser muito desestabilizador, disse Todd.

 

A empresa vende “ovos veganos”, um produto que substitui os ovos. Foto: BBC

 

De volta à Follow Your Heart, Goldberg afirmou que com o atual interesse em produtos veganos, seu sonho se tornou realidade.

Ele disse também que o melhor da revolução em produtos alternativos para vegetarianos e veganos é o grande aumento da variedade.

Ser vegetariano é uma opção ética para ele, apesar de recordar com afeto das salsichas e das panelas cheias de carne assada comuns em sua infância em Chicago. Ele disse já estar cansado de comer couve de Bruxelas.

“Não as comerei de novo. Comi o suficiente nos anos 70 para toda uma vida”.

Matéria original: BBC

Assista o vídeo institucional que conta a história da empresa (legendas em inglês).